Sistema alimentar regenerativo: futuro da produção alimentícia

Dando continuidade a nossa parceria com a FoodVentures, no texto desta semana, falaremos sobre sistema alimentar regenerativo. Já no texto da semana anterior foi dada uma introdução ao conceito de alimentação regenerativa. Com isso, finalizamos os textos do mês de maio.

A parceria entre o GEPEA  e a Food Ventures visa criar um conteúdo rico. O intuito é trazer a visão de negócios da Food Ventures em conjunto com a visão acadêmica da Empresa Júnior. 

Aproveite a leitura!

Mudança climática e os alimentos 

 

Um relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), publicado em meados de 2019, relaciona as mudanças climáticas com o uso da terra. Baseados em dois anos de estudos, peritos concluíram que, caso o aquecimento global passe do limite de 2°C, o impacto pode colocar o sistema alimentar em risco. Isso porque aconteceriam, por exemplo, a desertificação de terras férteis e fenômenos meteorológicos extremos

 

De acordo com o relatório, o aumento de eventos climáticos resultantes do aquecimento global pode acarretar na diminuição das colheitas. Como resultado, o preço dos alimentos tende a aumentar proporcionalmente. O preço global dos cereais, por exemplo, pode aumentar em até 29% até 2050. 

 

Além disso, 8% das emissões globais de gases de efeito estufa são provenientes do desperdício de alimentos. A energia gasta durante sua produção e os gases liberados durante o apodrecimento dos alimentos em aterros sanitários são os responsáveis por esse alto índice. Analogamente, dentro de todos os alimentos produzidos anualmente, um terço é perdido ou desperdiçado.

 

Ainda mais os pesquisadores desse estudo relacionam a concentração de gás carbônico com a qualidade dos alimentos. Segundo eles, altas concentrações podem ocasionar na perda do valor nutricional do alimento, podendo afetar a segurança alimentar global

 

Ainda mais, vale ressaltar que , atualmente, 40% das terras usadas no mundo têm o intuito de atender a indústria do agronegócio. Essas terras são responsáveis por 30% das emissões mundiais e 70% do consumo de água.  

 

Portanto, torna-se evidente a necessidade dos processos de produção alimentar se tornarem cada vez mais sustentáveis, seguindo, por exemplo, alguns conceitos do sistema alimentar regenerativo e da agricultura sustentável.

 

Sistema alimentar regenerativo: uma possível solução 

 

Diante da grande importância de uma reestruturação no sistema de produção alimentar, surgem conceitos inovadores como o sistema alimentar regenerativo. 

 

De acordo com a The Nature Conservancy Brasil (TNC), sistemas alimentares regenerativos representam uma ideia que vai além de um sistema que visa diminuir o impacto ambiental. Trata-se de uma forma de produção que visa também a restauração dos danos já causados à saúde do planeta. O intuito desse tipo de sistema é produzir alimentos protegendo a biodiversidade, reduzindo a emissão de gases de efeito estufa e restaurando os habitats

 

Para que seja possível a estruturação desse tipo de sistema é importante que se esteja aberto para mudanças. O caminho do alimento até o consumo é complexo e envolve muitas etapas e processos. Com isso, para que esse caminho inteiro seja feito “regenerativamente”, todos esses pontos devem ser revistos e reestruturados, se necessário. 

 

Da mesma forma, é importante que os incentivos de mercado também estejam acompanhando essas mudanças e promovam a utilização desse sistema. Outro ponto importante é participação das principais áreas de produção. Se indústrias dessas áreas começarem a se esforçar para implantar esses sistemas com agilidade, o impacto ambiental poderia ser mais rápido e eficaz. 

Posicionamento das grandes empresas e o sistema alimentar regenerativo 

Algumas grandes empresas do setor de alimentos já começaram a se comprometer com objetivos semelhantes do sistema alimentar regenerativo.

O Grupo Syngenta, por exemplo, demonstrou seu compromisso com a causa através de um plano de Agricultura Sustentável, o “The Good Growth Plan”. Tal plano inclui auxílio aos agricultores que lidam com os padrões climatológicos extremos ocasionados pelas mudanças climáticas, além da redução em 50% das emissões de carbono durante as operações das empresas do grupo. Esse plano foi elaborado após outras duas ações de grandes empresas. Sendo uma delas a Unilever, que  fez um investimento de 1 bilhão de euros num “fundo climático e da natureza”. A segunda delas sendo o Walmart, que no início de 2020, anunciou o Projeto Gigaton. O projeto tem como objetivo evitar a liberação de 1 bilhão de toneladas de gases de efeito estufa da cadeia de valor global até 2030.

 

Para entender melhor sobre as práticas de produção regenerativas, leia “Alimentação Regenerativa: o que é?

 

Sistemas alimentares regenerativos no Brasil e o incentivo da ONU

 

Tendo tudo isso e outros objetivos em mente, a Organização das Nações Unidas (ONU) realizará a “Cúpula de Sistemas Alimentares” em setembro de 2021. Os temas tratados nessa cúpula serão:

 

  1. Garantia do Acesso a Alimentação Saudável, Segura, Sustentável para Todos
  2. Padrões de Consumo Saudáveis e Sustentáveis
  3. Produção em Escala de Alimentos Positivos para a Natureza
  4. Promover o Sustento e a Distribuição de Valor Equitativa
  5. Construção de Resiliência contra Vulnerabilidades, Choques e Tensões.

 

O conceito de sistema de alimentação regenerativa pode se encaixar nos itens 1, 2 e 3. Vale ressaltar que todas essas propostas podem ser relacionadas, de certa forma, aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, também da ONU,

 

Como o Brasil é uma grande potência agropecuária, sua participação nesta mudança é de extrema importância. Por isso, o país está participando de discussões e consultas em Nova York, Roma e Genebra como forma de preparação para o evento da ONU. Além disso, o governo brasileiro decidiu, como outra forma de preparação, realizar diálogos nacionais em que os sistemas alimentares domésticos serão discutidos. Nesses diálogos também serão definidas propostas para serem efetuadas e submetidas à ONU. 

 

Posicionamento da indústria do café nesses diálogos

 

Recentemente o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé) teve participação importante em dois desses diálogos. Os diálogos foram os com os temas: “Construindo Sistemas Alimentares Resilientes” e “Incentivando a Produção e o Consumo Saudável e Sustentável de Alimentos”. 

 

Neles, o Cecafé representou a cadeia produtiva cafeeira nacional. No diálogo com o tema “Construindo Sistemas Alimentares Resilientes”, o diretor geral da Cecafé, apresentou, como case de sucesso, a resiliência da atividade cafeeira do café no Brasil. De acordo com o diretor, essa resiliência se dá  devido a um importante pilar no seu tripé socioeconômico ambiental: a sustentabilidade

 

Ainda mais, ele afirma que a estabilidade financeira da cafeicultura nacional permitiu investimentos importantes para a preservação do meio ambiente em inovação, pesquisa e tecnologia. O diretor também cita medidas sustentáveis legais que estão sendo foco no momento. Questões como a otimização do Cadastro Ambiental Rural (CAR), no Programa de Regularização Ambiental (PRA) e na consolidação do Código Florestal. Ainda mais, ele finaliza trazendo informações de trabalhos e iniciativas sustentáveis especificamente para a indústria do café.

 

Ainda mais, no diálogo com o tema “Incentivando a Produção e o Consumo Saudável e Sustentável de Alimentos”, o gestor de sustentabilidade do Cecafé também se pronunciou.  O gestor trouxe diversos dados importantes sobre como é a produção de café no Brasil. Além disso, também falou de medidas ambientais legais na produção do café. Como, por exemplo, o Currículo de Sustentabilidade do Café (CSC) e a Produção Integrada de Café (PIC-Café)

 

Conclusão

 

Por fim, fica claro que o sistema de produção de alimentos deve passar por diversas mudanças nos próximos anos. Mudanças essas que envolvem questões como sustentabilidade, meio ambiente e segurança alimentar. Além disso, nota-se que a alimentação regenerativa é uma tendência que pode guiar o sistema de produção de alimentos para um funcionamento não só mais sustentável, mas que também tenta reduzir os danos já causados no ambiente. Isso fica ainda mais evidente com as diversas novas iniciativas que contemplam diversos desses aspectos.

 

 

Acesse nossas redes sociais para mais informações e não perca o webinar no fim do mês sobre esse tema! 

Gostou de saber mais sobre alimentação regenerativa? Quer desenvolver algum produto nessa área? Tem alguma empresa que trabalhe com isso? Entre em contato conosco para conversar e trocar experiências, e saber mais sobre nossos serviços e como podemos o ajudar.

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